O compromisso com a esperança, o sucesso e esforço da ciência no desenvolvimento de vacinas para Covid-19 e a valorização do Plano Nacional de Imunização (PNI) brasileiro foram os condutores da super live realizada nesta quarta (20) com ex-ministros da Saúde de diferentes governos – de Lula a Bolsonaro – com a representante da sociedade civil e do mundo empresarial, Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza.

Organizado e mediado pelo deputado federal e ex-ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff, Alexandre Padilha, o debate contou com participação dos ex-ministros da Saúde Humberto Costa e José Gomes Temporão, ambos do governo Lula, Arthur Chioro, comandou a pasta também na gestão Dilma, e Nelson Teich, chefiou o Ministério no governo Bolsonaro por cerca de um mês, frente à pandemia. Padilha abriu a discussão perguntando a expectativa de cada um sobre tomar a vacina e a avaliação sobre o início da vacinação no Brasil.

Capacidade de vacinar 80 milhões em três meses

Ministro da Saúde que conduziu o enfretamento da pandemia de H1N1 em 2009, José Gomes Temporão, diz estar pronto para tomar a vacina e salientou que, desde o começo da pandemia, se sabe que para o país superar a situação da Covid-19, o ideal é dispor de uma ou mais vacinas que funcionem e possam proteger a população brasileira.

“De longe, nosso PNI é o melhor do mundo. Nos 50 anos do nosso Programa de Imunização estamos enfrentando três obstáculos que nunca enfrentamos antes: falta de coordenação, de liderança e legitimidade do Ministério da Saúde. Nunca tivemos no Brasil uma campanha de vacinação em massa onde o Ministério da Saúde não tivesse tido papel central, de liderar, coordenar, planejar e dar apoio técnico, logístico e de insumos aos estados e municípios”.

Temporão destacou que, também pela primeira vez, o país vai enfrentar uma campanha de vacinação com uma máquina de fakenews contra as vacinas e que, em todas as outras situações, o país já contava com vacinas pré-existentes ou foi possível – como no caso da Influenza – dispor de uma vacina que pudesse ser utilizada em campanha de massa.

“Dessa vez, estamos utilizando vacinas de plataformas tecnológicas novas e a ciência mundial deu a resposta. Nossas duas grandes instituições – Butantan e Fiocruz – deram suas respostas, mas a angústia que temos é que sabemos que não temos no horizonte, em termos de disponibilização do número de doses, a realização de uma grande campanha em curto espaço e com impactos coletivos que reduzam a circulação do vírus, internações e mortes”.

Padilha reforçou a capacidade do PNI na fala de Temporão. “É possível o Brasil vacinar 80 milhões de pessoas em três meses, já fizemos isso na campanha de vacinação da gripe. 80 milhões de brasileiros são mais ou menos todos os profissionais de saúde, idosos, população indígena e quilombola, profissionais de educação, segurança pública e manutenção das cidades, os professores e pessoas com deficiência. É possível vacinar a população de risco antes de começar o outono/inverno de 2021, onde o número de casos pode ser maior”.

O hoje senador Humberto Costa diz ter expectativa grande de poder se vacinar, com a previsão para o início de março, mas diz estar pessimista com relação ao cumprimento dessa meta e estar muito preocupado com a situação do país já que há aumento da capacidade de contágio do vírus.

“Neste momento estamos vendo pessoas jovens adoecendo de forma grave e, portanto, vamos ter que mudar o pneu com o carro andando. A vacinação se dará no pico do aumento, novamente, do número de casos e mortes. O quadro que vemos no país é a cobrança na rapidez da vacina, mas também a continuidade das medidas de prevenção sob pena de termos um quadro gravíssimo. A vacinação é essencial e urgente. Não vou falar dos erros que o governo cometeu, de negociar somente duas vacinas, temos agora que buscar uma força de pressão que vá para cima do governo, que só funciona na base de pressão do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Temos que cobrar que a Anvisa tome, rapidamente, posição sobre outras vacinas.”

Sociedade civil e empresarial juntas

A empresária Luiza Trajano agradeceu aos ex-ministros pelo que foi feito pelo SUS e saúde do Brasil em suas respectivas gestões frente ao Ministério, afirmou que irá se vacinar, mas também está preocupada com a população de modo geral.

“Além da tristeza e das inseguranças de saúde, estamos vendo a insegurança do mercado no mundo inteiro. Esse vírus veio para conviver com a nossa impotência e incompetência. A sociedade civil e empresarial deve pensar em parcerias, em formas diferentes de vencer esses obstáculos e ajudar o mais rápido possível a população. Temos quatro pilares da desigualdade social no país: saúde, educação, habitação e emprego. Temos a saúde pronta, o que está na Constituição é perfeito, não tem que mudar nada. É o maior sistema de saúde do mundo para um país com tanta desigualdade social, precisa funcionar, precisa ter gestão”. Luiza reforçou ser a maior divulgadora do SUS após se aprofundar melhor em como funciona o sistema de saúde público brasileiro.

Arthur Chioro avalia que o país corre o risco de ficar para traz nas condições sanitárias, das vidas salvas, da retomada do crescimento e geração de empregos pelos equívocos de condução da pandemia desde o início pelo governo Bolsonaro.

“Nossos erros no enfrentamento a pandemia são graves, a incapacidade de lidar com a desigualdade social em um momento crítico e a crise política gerada por um presidente descomprometido com a vida frente a responsabilidade e condução do que estamos vivendo. Sou médico plantonista e estou programado para tomar a vacina nos próximos dias, mas não me conformo com a falta de perceptivas da garantia de suporte e prazo adequado para garantir a dimensão mais importante que um programa nacional de imunização pode prover, que não é só a proteção individual, mas a garantia da cobertura vacinal em quantidade suficiente para proteção coletiva”.

Último ministro a ocupar o cargo, Teich diz estar disposto a tomar a vacina e preocupado com a implementação de um plano de vacinação eficiente. “Vivi a pressão do que é a Covid-19 e precisamos ter estratégia, planejamento, liderança, coordenação, formação, execução boa e comunicação, se uma delas falhar, teremos muita dificuldade. A Covid sobrecarregou os sistemas de saúde do mundo e vai sobrecarregar o PNI também, não podemos subestimar as dificuldades que possam existir. Nos últimos dois anos não conseguimos bater as metas de vacinação. Se tiver de acrescentar mais 300 milhões de doses, vamos ter um PNI absolutamente sobrecarregado. Vejo a vacina como solução, mas o grande desafio é o quão competente serão o nosso programa de vacinação. A liderança de um profissional de saúde frente a pasta consegue enxergar o cenário da pandemia no momento, uma pessoa leiga, não. Isso faz diferença”.

Confira como foi a live dos ex-ministros da Saúde e a empresária Luiza Trajano