Da Rede Brasil Atual 

São Paulo – A encenação e a fala nazista do agora ex-secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, revelou que os ataques do presidente Jair Bolsonaro – frequentemente racistas, machistas, homofóbicos e de investida contra todo o tipo de diversidade – não são parte de uma estratégia para tirar de foco seu projeto impopular para o campo econômico, a chamada cortina de fumaça. Na prática, o governo Bolsonaro empreende uma verdadeira “guerra cultural” para impor seus valores na sociedade. A avaliação é do deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).

“Isso faz parte do núcleo do projeto de governo, daquilo que o Bolsonaro acredita que tem como papel, missão para o país, uma combinação da exclusão social, uma valorização absurda dos muitos ricos, de beneficiar permanentemente os muito ricos, combinado com o que eu chamo de um obscurantismo ostentação”, explica Padilha em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

“Desde o começo sempre tive convicção de que isso faz parte do núcleo do governo, uma combinação do discurso obscurantista, de regressão, tentativa de tolher a diversidade do nosso país, os direitos individuais, tolher a liberdade de imprensa, como forma de garantir a implementação de um programa econômico extremamente excludente no nosso país”, ressalta.

O parlamentar é um dos autores da representação, encaminhada à Procuradoria da República no Distrito Federal, que pede o enquadramento criminalmente de Alvim por apologia ao nazismo e prática de racismo. Ingressada nesta terça-feira (21) no Ministério Público Federal (MPF), ação exige também a revogação imediata do edital que instituiu o Prêmio Nacional de Cultura e a revisão de todas as nomeações feitas pelo ex-secretário durante o exercício do cargo.

De acordo com Padilha, a expectativa é que a representação seja rapidamente analisada pelo MPF, para tolher qualquer tipo de ensejo nazista semelhante por parte de membros do governo ou da própria sociedade civil. Segundo ele, a história comprova tal emergência, uma vez que a falta de um registro preciso sobre a data da instalação do regime totalitarista na Alemanha, demonstram que o nazismo foi se lastreando por meio de um conjunto de ações que aos poucos foram cerceando os direitos e a própria democracia, de modo a consolidar-se como o regime vigente.

Também por isso que o deputado afirma a nomeação da atriz Regina Duarte – que cumpre uma espécie de período de teste na Secretaria Especial da Cultura – não representa nenhuma mudança. “Exatamente por isso que se pede para que os atos de Roberto Alvim sejam revistos o mais rápido possível, porque podem ter pessoas nomeadas por ele que estão reproduzindo a mesma ideologia, podem mudar o secretário e a secretária, mas o corpo da secretaria continuar praticando as mesmas ações”, ressalta o deputado.

De inspiração olavista, as ações para a cultura por parte do governo não deixam de refletir ainda empreitada dos seus agentes contra o que eles chamam de “marxismo cultural”, mas com evidente “apologia ao nazismo com a ideia de que tem que purificar a cultura do país”. “Algo incompatível com a história brasileira”, critica Padilha. “Um país que tem na sua produção cultural toda a diversidade de um país continental, todo o nosso histórico da presença da população negra, dos imigrantes europeus que vieram depois, da população indígena, do contato com a colonização portuguesa”, rebate.

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