Por Alexandre Padilha |

 Há 30 anos celebramos no dia 18 de maio o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, um marco na defesa dos direitos humanos por uma sociedade sem manicômios.
Tivemos muitos avanços no Sistema Único de Saúde para o fim da “hospitalização” dos transtornos mentais, com atenção integral e humanizada. Quando Ministro da Saúde, multiplicamos o orçamento para saúde mental e criamos a Rede de Atenção Psicossocial que consiste em ações voltadas à saúde mental para que estados e municípios tenham serviços de urgência, centros especializados de cuidado continuado fora do hospital, Residências Terapêuticas para egressos de manicômios e bolsas para formação de novos psiquiatras e residência multiprofissional.
A grande conquista dessa rede é oferecer, para quem sofre com algum transtorno mental e suas famílias, algo mais digno do que o manicômio. Ainda há muito para fazer, mas hoje milhares de brasileiros utilizam os Centros de Atenção Psicossocial, os Centros de Convivência e Cooperativa, os pontos de Economia Solidária, as Residências Terapêuticas, os Consultórios na Rua.
Quando fui secretário de saúde de São Paulo na gestão do prefeito Fernando Haddad, nos comprometemos a encerrar os contratos e convênios com os hospitais manicomiais e abrir novas Residências Terapêuticas, casas comuns que abrigam pessoas com transtornos mentais que perderam o contato com a família, e conseguimos. Em dezembro de 2016 foi publicado no Diário Oficial o selo “São Paulo Cidade sem Manicômios”, um pedido dos familiares, dos profissionais e das entidades da luta antimanicomial: a cidade ficou livre dos manicômios.
Os pacientes foram avaliados por técnicos e encaminhados para as Residências Terapêuticas ou, aqueles que tinham contato com suas famílias, retornaram para seus lares.
Pude acompanhar a transferência de alguns pacientes e como foi gratificante ver essas pessoas reinseridas novamente na sociedade, com autonomia, tendo uma rotina produtiva. Também acompanhei o emocionante retorno da Dona Minervina, de 94 anos, para casa com seu filho, ela estava internada há seis décadas em um hospital na região de Sorocaba. A loucura deve ser tratada em liberdade, com inclusão e respeito.